A Câmara do Rio iniciou, na manhã desta terça-feira (21), a discussão sobre o Projeto de Lei 62/2024 que trata da construção de um novo autódromo para a cidade, no bairro de Guaratiba, na Zona Oeste, com uma audiência pública conjunta realizada pelas comissões de Esportes, Lazer e Eventos e de Assuntos Urbanos.
A reunião foi presidida pelo vereador Zico (PSD), pelo colegiado de Esportes, com participação do vereador Eliseu Kessler (MDB), de Assuntos Urbanos. A mesa foi composta ainda pelo secretário Municipal de Esportes, Guilherme Schleder; pelo secretário municipal de Coordenação Governamental, Jorge Luiz Arraes; pelo subsecretário-executivo da pasta de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Thiago Ramos Dias; pelo CEO da empresa Rock World, Ricardo Acto; e pelo presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Rio de Janeiro, Djalma de Farias Neves.
Para o presidente da Câmara dos Vereadores, Carlo Caiado (PSD), a realização da obra levará desenvolvimento não só à região, como à cidade do Rio como um todo. “Outros estados têm mais de um autódromo. Em outra audiência, em 2015, ouvi vários eleitores críticos que me ligaram, dizendo que a cidade precisa de hospital, saúde e educação. Claro, os hospitais da Zona Oeste foram todos municipalizados, doamos R$ 60 milhões. Mas nossa Constituição Federal de 1988 garante um percentual que é previsto para investimento na saúde. Quanto mais a cidade arrecada, mais investimos em educação. O autódromo vai além da prática do automobilismo”, defendeu.
O projeto de erguer o autódromo integrado a um parque foi apresentado pelo secretário Jorge Luiz Arraes e pelo subsecretário Thiago Ramos Dias. A iniciativa deve ser uma Operação Urbana Consorciada, a exemplo do Porto Maravilha, e seguindo o modelo de outros dois projetos em tramitação na Câmara — o da reforma do estádio de São Januário, do Vasco da Gama, e o do Parque Olímpico. A realização de audiências é prevista no Estatuto das Cidades e no Plano Diretor, recentemente aprovado, provendo transparência e mecanismos de controle para a ação. Uma das preocupações é o processo de desadensamento de regiões mais afastadas da cidade tendo em vista os aspectos econômicos e impactos sobre a cidade.
“É um equipamento com ocupação muito pequena da área em que será instalado. Há obrigações específicas de preservação dessa área frágil, dessa área de baixada que não pode suportar taxa de ocupação muito elevada. É o caso que permite a instalação de equipamentos de drenagem que conversem com a bacia do Rio Cabuçu Piraquê. Há a preocupação de preservar a Área de Proteção Permanente que ocupa aquele terreno, como matas ciliares, fragmentos de floresta, árvores protegidas. A gente tem que pensar nessa operação como a troca de uma possível operação humana de longa permanência numa região frágil com elementos ambientais relevantes para o patrimônio carioca por um equipamento de mais permeabilidade, sem o mesmo impacto para o ambiente e para a estrutura urbana da cidade”, explicou o subsecretário-executivo.
Desenvolvimento e geração de empregos
O desenvolvimento para a região, assim como a geração de empregos com a possível realização da obra marcaram as falas dos demais componentes da mesa.
CEO da Rock World, empresa responsável pelo projeto e pela organização do Rock in Rio, Ricardo Acto falou do tamanho do desafio em realizar uma iniciativa dessa importância. “Ao longo dos últimos meses procuramos investidores para viabilizar o autódromo. Existe essa capacidade técnica no espaço, e vontade. Fizemos a proposta à prefeitura de realizar ali a obra, e é para isso que estamos aqui hoje. Acima de tudo, assumimos esse compromisso não só ligado ao desenvolvimento, mas respeitando os quesitos legais, ambientais e a comunidade local”, disse o empresário.
Indo além da questão desportiva, o presidente da Faerj, Djalma de Farias Neves, apontou que a iniciativa pode representar um ganho para a região. “Esse equipamento vai gerar empregos, turismo e lazer para a população, o que está fazendo muita falta. É fundamental para o estado, que teve um crescimento enorme com as Olimpíadas em número de hotéis e quartos. Com certeza o autódromo vai dar substância para essa ocupação. Isso representa muito para o Rio”, falou Neves.
Governança e impactos na economia da região
Os presidentes das comissões responsáveis pela audiência pública perguntaram sobre a governança dos mecanismos de controle e sobre o impacto na região. Eliseu Kessler citou que seria oportuno contar com representação da Associação Comercial do Rio de Janeiro, assim como da Associação de Hotéis da cidade, enquanto Zico solicitou dados referentes aos impactos econômicos e sociais decorrentes da implantação de um autódromo em outras cidades do mundo e do Brasil.
Em resposta, o secretário Jorge Luiz Arraes citou números de outras cidades que contam com autódromos. “São Paulo, em 2023, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, teve impacto de R$ 1,6 milhões. A arrecadação de impostos foi de R$ 246 milhões. Outro exemplo interessante de impacto foi o lançamento, em 2023, do Grande Prêmio (de Fórmula 1) de Las Vegas, o recordista no impacto econômico. (O evento) correspondeu a duas vezes o impacto do Superbowl: foi de US$ 1,3 bilhão. Por último, o Stock Car de Belo Horizonte, para falar de um evento menor, teve impacto econômico anual de R$ 170 milhões, e em torno de 1,5 mil empregos gerados. A cadeia produtiva em torno de um autódromo leva em conta hotéis, impostos, geração de empregos, e nossa cidade tem um apelo turístico bastante expressivo”, disse ele.
Preservação ambiental e infraestrutura na região
A vereadora Luciana Boiteux (PSOL), por outro lado, demandou o estudo de impacto de vizinhança, conforme previsto no Estatuto das Cidades, ressaltando que a área sofre com enchentes, tem pouca estrutura e depende do BRT. “Não se pode falar apenas em empreendimentos sem citar seu impacto ambiental. A lógica do lucro e da exploração tem sido prioridade. Esse terreno já sofre um impacto, os problemas da falta de infraestrutura também se agravarão. É uma região que precisa de investimento, de saneamento, habitação, transporte. A gente quer chamar atenção para a preservação ambiental e da população do entorno”, afirmou a vereadora.
Em sua fala, o vereador Edson Santos (PT) lamentou que o Rio tenha perdido o autódromo de Jacarepaguá, observando que o novo projeto traz uma possibilidade de desenvolvimento regional, gerando empregos para a população mais próxima, enquanto mantém o respeito ao ambiente. “Queria pensar a questão do desenvolvimento econômico dessa região: estudos mostram que Rio e São Paulo tendem a se tornar uma megalópole, e esse crescimento tem que ser ordenado e mitigado”, ressaltou. O parlamentar também abordou benefícios ambientais: “Vemos a questão que está ocorrendo no Rio Grande do Sul por conta da impermeabilização do solo; um autódromo que permita a permeabilização do solo pode ser um ganho para a região. Portanto, a Câmara vai ter a responsabilidade de tratar esse tema com profundidade, encarando que a questão do desenvolvimento econômico, e da geração de emprego e renda são fundamentais. A região não pode ser um depósito de pessoas”, completou.