Os obstáculos enfrentados por jogadoras nos ambientes virtuais foram tema de um debate público nesta segunda-feira (03), no Plenário do Palácio Pedro Ernesto. A reunião foi promovida pela Frente Parlamentar em Defesa do Respeito às Mulheres no Universo dos Games da Câmara do Rio, presidida pelo vereador Vitor Hugo (MDB). O evento contou com representantes do Poder Executivo, Poder Legislativo e membros da sociedade civil.
Em sua fala, o vereador Vitor Hugo destacou a necessidade de discutir o tema, principalmente pelo fato de a indústria dos jogos virtuais ter cada vez mais espaço na vida dos cariocas. O parlamentar defendeu a aprovação do PL 2232/2023, que inclui jogos eletrônicos na grade extracurricular da rede pública municipal de ensino, como uma das suas prioridades para o segundo semestre deste ano. Para o parlamentar, isso ajudará na inclusão do público feminino no mundo dos jogos eletrônicos desde a infância, propiciando ainda mais debates sobre os direitos das meninas. “Nossa bandeira é discutir o preconceito que as mulheres sofrem neste ambiente. A Frente funciona como uma ferramenta de suporte para mulheres que sofrem com esse tipo de violência”, concluiu.
“Nós precisamos punir de fato os que cometem misoginia e outros tipos de preconceito neste ambiente. Isso servirá como exemplo e trará solução”, disse o coordenador de games da Casa Civil, Chandy Fonseca. Ele concordou com o vereador e celebrou o fato de a Câmara estar discutindo um assunto tão importante. Fonseca acrescentou que, para além do debate, é preciso pensar em ações efetivas. “Nós temos a oportunidade de fazer algo para inspirar outros poderes a tomarem medidas concretas”, ressaltou.
Marie Freire, representante da Federação do Estado do Rio de Janeiro de Esportes Eletrônicos (FERJEE) e gamer, contou que, para uma mulher ingressar em plataformas de jogos eletrônicos, é preciso coragem. Segundo a jogadora, os preconceitos e a misoginia fazem muitas mulheres desistirem. “Desde quando escolhemos nosso nickname, já temos medo de ataques. Jogamos sempre duvidando da habilidade. Não há estímulo para mulheres neste ambiente”, comentou. Freire ressaltou que a FERJEE vem desenvolvendo trabalhos de letramento digital “desde a base” e que “a realidade só vai ser mudada se o problema for tratado na raiz”. Além disso, ela destacou que atualmente a Federação tem promovido competições inclusivas mistas.
Vice-presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games (Abragames), Carolina Caravana classificou como fundamentais as políticas de inclusão digital voltadas para mulheres. Segundo ela, não se trata apenas do acesso à internet, como também é urgente informar e falar sobre violências vividas no mundo digital. “Quem não tem acesso à informação é, de fato, mais vulnerável. Quando falamos de respeito com o sexo feminino, estamos discutindo algo fundamental para o desenvolvimento da indústria gamer. Isso precisa ser o nosso foco”, concluiu.
Amanda Abreu, ex-atleta de esportes eletrônicos, explicou que o mundo gamer é uma das maiores indústrias e que mulheres precisam ser incentivadas a construir carreiras. Ela também relembrou as dificuldades enfrentadas ao longo da carreira. “Eu, enquanto jogadora, precisei esconder meu gênero, porque nunca consegui ter paz para jogar. Os crimes na internet nunca são vistos como importantes, como sérios. Tudo parece sempre ser pequeno demais, e esses crimes nunca são investigados”, completou.