Um transtorno de ansiedade infantil ainda pouco conhecido, o mutismo seletivo foi tema central de uma roda de conversa promovida pela Câmara do Rio na tarde desta segunda-feira, dia 31. Especialistas, representantes da prefeitura, da sociedade civil e familiares de crianças que possuem o transtorno discutiram a importância do diagnóstico precoce e da oferta do tratamento adequado. Após o encontro, a fachada do Palácio Pedro Ernesto foi iluminada na cor azul, símbolo da causa.
O Mutismo Seletivo é uma fobia que pode se manifestar na escola, principalmente entre crianças de 3 a 6 anos de idade. Este transtorno de ansiedade infantil caracteriza-se pela dificuldade da criança se comunicar verbalmente em determinadas situações sociais. De acordo com um estudo recente da SMA (Selective Mutism Association), uma a cada 140 crianças possuem mutismo seletivo.
A realização do evento é uma iniciativa da vice-presidente da Câmara do Rio, a vereadora Tânia Bastos (Republicanos). “Para nós é de suma importância levar essa conscientização para a sociedade. O mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade infantil e que vem crescendo. Com o apoio dos vereadores nesta Casa nós conseguimos a aprovação de leis que eu considero bastante relevantes, uma que se refere à capacitação dos profissionais da área de educação e saúde e outra sobre a inclusão do Dia da Conscientização do Mutismo Seletivo no calendário oficial da cidade”, relembrou a parlamentar.
Presidente da ABRAMUTE (Associação Brasileira de Mutismo Seletivo), Francilene Torraca enfatizou que a falta de tratamento pode provocar diversos problemas de saúde mental no indivíduo no futuro. “Hoje é o Dia Conscientização do Mutismo Seletivo e a gente está trazendo para cá informações pertinentes, importantes, sobre o mutismo seletivo a fim de a gente mostre para as pessoas que essa é uma doença que está dentro da psiquiatria infantil, esté dentro do rol dos transtornos de ansiedade da infância e que acomete as crianças muito precocemente, na primeira infância. Se não devidamente tratado, são ocasionados problemas na vida das nossas crianças, na adolescência e na vida adulta”, apontou a psicóloga.
Para o Dr. Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, o mutismo seletivo é um transtorno peculiar e que tem uma característica em especial. “Ansiedade e depressão são, na verdade, irmãs gêmeas. E é talvez o grande mal dos nossos tempos. Muito provavelmente vai se expressar no principal problema que a gente vai lidar nas várias gerações. As crianças têm, de alguma maneira, produzido muito sofrimento que aparecem com sintomas diversos e alterações de comportamento, o mutismo seletivo é um deles, muito grave. O mutismo seletivo tem um aspecto curioso porque ele é silencioso, a família não percebe, as pessoas próximas da criança não percebem, a dificuldade que ela tem é de relacionar com o outro não conhecido.”
Claudia Areias é mãe da Maria Clara, de 10 anos. Ela descobriu que a filha tinha mutismo seletivo quando a pequena tinha apenas três anos de idade e relatou que o diagnóstico a surpreendeu. “Na verdade, não foi nem uma suspeita minha. Foi a escola que me chamou querendo saber por que ela não falava. Em casa ela falava com todo mundo, comigo, com meu marido, com os avós. Nessa hora para mim foi uma surpresa porque eu não tinha percebido isso. Aí eu comecei a prestar mais atenção e vi que quando ela ia se aproximando da escola ia ficando mais calada”, contou Areias.
Membro da direção do Instituto Municipal Helena Antipoff, Fanni Hamphreis da Silva falou sobre a atuação do poder público. “A Secretaria de Educação, todas as vezes que recebe algum pedido de orientação, imediatamente convoca uma equipe para ir lá avaliar, a partir do relatório do professor. Aí a gente dá um serviço de apoio para a criança.”
