“Maternidade atípica: quem cuida dela?” foi o tema de uma roda de conversa que aconteceu na tarde desta segunda-feira, dia 12, no auditório da Câmara do Rio. Especialistas e mães atípicas compartilharam as suas experiências e destacaram a importância de cuidar da saúde mental materna, com foco nas mulheres que têm filhos com deficiência.
De iniciativa da vereadora Tânia Bastos (Republicanos), a terceira edição da roda de conversa abordou o tema da saúde mental da mãe atípica em razão da Campanha Setembro Amarelo, que foca na valorização da vida. A maternidade atípica se refere às mulheres que possuem filhos com deficiência.
“Quando a gente se coloca no lugar do outro, a gente percebe o quanto essas famílias vêm sofrendo pela falta de políticas públicas. A síntese desse nosso projeto de estar fazendo esse debate na Câmara Municipal e hoje falando sobre a maternidade atípica, quem cuida dessa mãe, foi de suma importância”, enfatizou a vice-presidente do parlamento carioca.
Todas as especialistas que participaram do evento também são mães atípicas e relataram como é a vida dessa mulher hoje: são vítimas de preconceito, têm os seus direitos negados e sofrem caladas. Enfermeira, especialista em saúde mental materna e coordenadora da Campanha Maio Furta-Cor, Isadora Veríssimo chama a atenção para o fato de que a maternidade representa uma mudança total na vida da mulher. Por isso, são fundamentais as iniciativas que favoreçam o bem-estar materno e políticas públicas que garantam todo o suporte necessário às mães, principalmente as atípicas.
“É de grande importância trazer esse tema com visibilidade para as mães atípicas porque é um grupo que recebe pouquíssimo cuidado e acesso à saúde mental. Viemos reforçar a importância da saúde mental materna, da mãe atípica, que precisa ser valorizada. Essas campanhas precisam ser ampliadas para que essas mulheres possam ser ouvidas e cada vez menos visibilizadas. O acesso à saúde mental materna precisa ser um dever de todos e elas devem receber uma atenção multiprofissional”, acrescentou Veríssimo.
Psicopedagoga e coordenadora do Grupo Escolhas, Glauciê Gleyds abordou a importância das mães atípicas terem uma rede de apoio. “Como profissional de saúde, esse acolhimento faz parte, é natural. Mas entendemos que somos um público muito pequeno. Talvez eu fale de um lugar muito privilegiado se nós olharmos a quantidade de mães atípicas que hoje sofrem, morrem e estão sumidas, que ninguém deu falta. São mulheres invisíveis que precisamos não somente falar por elas, dar voz, mas colocar um holofote para encontrar e dizer assim: a sua vida importa!”
As mães atípicas também enfrentam inúmeros desafios no mercado de trabalho. Carolina Miranda é advogada e mãe do pequeno Bernardo, de quatro anos. Ele foi diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista). “Sabemos que quando a gente vira mãe, nós temos uma revisibilização da nossa carreira. Olham pra gente com outros olhos, como se a gente não fosse mais ter o mesmo rendimento de antes. Imagine quando essa mulher além de mãe é uma mãe atípica! Os olhares se voltam pra gente com muito preconceito, achando que vamos ficar levando filho ao médico o tempo todo”, refletiu Miranda que amanhã toma posse na Comissão de Autismo da OAB - Barra da Tijuca.
Na plateia do evento, Renata Alvim contou que é neurologista infantil e apresentou dados de uma pesquisa que fez para o seu mestrado em autismo voltado para políticas públicas no Instituto Fernandes Figueira. “97% das crianças com deficiência eram cuidados exclusivamente pelas mães e 80% dos casamentos acabaram. Já em relação aos direitos trabalhistas, 67% das mães atípicas não podem trabalhar de carteira assinada porque não têm flexibilidade de horário para cuidar dos filhos”, comentou.
Também participaram do evento João Ricardo Melo, diretor-geral do Instituto Benjamin Constant; Andrea Bussade, superintendente de Políticas para Pessoas com Deficiência do governo do Estado; e Simone Nascimento, representante do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO).