A Comissão de Cultura da Câmara Municipal do RIo realizou, nesta quinta-feira (07), uma audiência pública para discutir a proposta de construção de um novo centro cultural na área do Canecão, tradicional casa de espetáculos localizada no bairro de Botafogo, que foi desativada desde 2010. O projeto é objeto do Projeto de Lei Complementar nº 28/2021, enviado pela Prefeitura à Casa em agosto deste ano, que altera o zoneamento do terreno onde fica a casa de shows desativada desde 2010, de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mesmo sem a presença de representantes da Prefeitura e da UFRJ, os vereadores da Comissão ouviram integrantes da associações de moradores e de segmentos da universidade, e debateram pontos da proposta. O presidente do grupo, vereador Reimont (PT), lamentou as ausências e defendeu a participação na discussão de todos que serão impactados pela medida. “O debate da construção do espaço multiuso onde era o Canecão tem que ser feito com as associações, com o corpo docente, o corpo discente, dos servidores da Universidade, com a sociedade do entorno”.
Professores e alunos da UFRJ, além de representantes de associações de moradores do entorno do local, temem que, com a justificativa de restituir à cidade com o equipamento cultural de grande relevância à cena cultural carioca, a proposta acabe permitindo o aumento de gabarito, a destruição do meio ambiente e de partes importantes da Universidade, como o prédio da Casa da Ciência.
A Presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (AMA-Botafogo), Regina Chiaradia, acredita que por trás da intenção de reformar o antigo Canecão, a reitoria do Universidade está tentando levar adiante o projeto Viva UFRJ, que permite a cessão de terrenos de sua propriedade para a iniciativa privada.
“Em reunião que participei com o reitor da Universidade, quando perceberam que esse espaço multiuso tinha que ser exatamente onde era o Canecão, sem derrubar nenhuma árvore, a Casa da Ciência, os hospitais, sem avançar em nenhuma outra área e sem aumentar o gabarito em nenhuma outra área do Campus da Praia Vermelha, aí não acharam nenhum pouco interessante o projeto”, revelou Chiaradia.
De acordo com Carlos Vainer, professor de Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, desde que a justiça determinou a retomada do terreno onde o Canecão funcionou por cerca de 40 anos, a instituição assumiu a posição de que aquela propriedade é um patrimônio cultural da cidade e que lá deve ser erguido um grande equipamento cultural multiuso de acesso ao público. Em reunião realizada com representantes da Prefeitura e da UFRJ, Vainer chegou a sugerir emendas à proposta, como a construção de um estacionamento subterrâneo, no entanto o texto do projeto que chegou à Câmara do Rio proíbe a construção de um estacionamento no local.
“Queremos uma justificativa das alterações feitas no teor e na forma do projeto de lei, porque a proíbe o estacionamento, quando um equipamento de grande porte como este exige vagas para estacionar. Precisamos restaurar a proposta original, com as emendas cabíveis, de maneira a garantir o caráter público, com estudos de impactos ambientais e de vizinhança, e com a preservação do extraordinário patrimônio cultural que é mural A Última Ceia, pintado por Ziraldo, e que quase foi destruído”, reforça Vainer.
Para o vice-presidente da Comissão, vereador Tarcisio Motta (PSOL), há um consenso da importância de se construir um equipamento cultural no local, mas é preciso saber exatamente em que termos se dará essa construção. “Sem essa segurança mínima de qual é a área que vai ser destinada ao equipamento cultural e qual a área que continuará a ser destinada para outras atividades, nós não podemos permitir que esse projeto siga tramitando na Câmara”, defende o parlamentar. Motta afirmou ainda que a Comissão deve enviar à Prefeitura um requerimento de informações pedindo mais detalhes sobre o projeto que solicita a alteração do uso do solo e de gabarito com vistas a devolver à cidade um equipamento cultural.
Esteve presente também na audiência pública o vereador Chico Alencar (PSOL).
UFRJ nega empreendimento maior
Em setembro, numa reunião realizada na Presidência da Câmara para tratar do projeto, o vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Leão, garantiu que o projeto contempla apenas a reconstrução do equipamento cultural, sem outros empreendimentos a ele atrelados, como já foi discutido no passado. Carlos Frederico afirmou que já existem tratativas sobre o financiamento da obra, mas o primeiro passo para o avanço nessas negociações é a aprovação do projeto na Câmara. “Houve um entendimento da Casa que temos que mudar o zoneamento da área para que possamos viabilizar na região um equipamento cultural. Essa foi a principal iniciativa, isso que nós queremos, devolver um equipamento cultural para a cidade”, destacou, na época.